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Adoção Infantil

 

 

Adoção no Brasil

Dados mostram a diferença entre a realidade e a idealização 

Especialistas afirmam que o perfil idealizado pelos interessados em adotar um filho está na contramão do que se encontra nos abrigos do país. Esclarecer a vida desses pequeno pode diminuir a fila para quem pretende adotar uma criança. A maioria dos brasileiros sabe que este é um país multicultural, formado por diversas etnias e costumes e com realidades sociais distintas. Mas em alguns aspectos, a sociedade não contempla esse fato. 

O perfil das crianças desejadas por candidatos a adotar um filho é um exemplo. Embora boa parte dos menores abrigados nas cerca de 600 instituições para esse fim no Brasil seja formada por afro-descendentes (63,6%) e 61,3%1 deles tenham entre 7 e 15 anos, a maior parte dos interessados em adoção procura por bebês com pele clara.

 De acordo com Marta Wiering Yamaoka, psicóloga judiciária da Vara da Infância e Juventude de São Bernardo do Campo, a maior dificuldade é encontrar pessoas interessadas nas crianças que estão para a adoção. “Grande parte dos candidatos desejam meninas, ainda muito pequenas e brancas. Esse é o motivo mais relevante para a demora do processo”, afirma. 

Segundo dados divulgados pela ONG Associazione Amici dei Bambini (Ai.Bi), 72% dos brasileiros preferem adotar uma criança branca, destes, 67% querem que seja um bebê com cerca de 6 meses, sendo que 99% efetivam a adoção de crianças com até 1 ano de idade. Entre os estrangeiros, 48% aceitam crianças com até 4 anos e cai para 13% o número de pessoas interessadas em crianças com a pele clara. 

O estado de saúde também pode representar um impedimento para que esses pequenos encontrem uma nova família. Enquanto 36% dos estrangeiros se dispuseram a adotar crianças acometidas por alguma complicação de saúde, a maioria das crianças adotadas no Brasil não tem esse perfil. 

Para Janaina Soares Pereira, assistente social, mãe adotiva e presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de São Bernardo do Campo (GEAA – SBC), os trâmites legais e econômicos não são os maiores empecilhos. “Qualquer pessoa pode se candidatar, solteira ou casada. O importante é ter alguma estabilidade financeira, um emprego fixo ou autônomo, e que viva em condições adequadas para abrigar uma criança.” 

Para diminuir a distância entre as crianças e as famílias interessadas em adotar, a assistente social acredita que é preciso mostrar à sociedade a vida de quem carece de um lar. A realização de debates e a troca de experiências auxiliam a amadurecer a decisão dos adultos. A mídia, por meio de campanhas e novelas, vem explorando o tema da adoção “tardia” e ajudando a esclarecer esses mitos. “Os interessados em adotar uma criança precisam conhecer mais nossa realidade social. Enquanto isso não acontecer, candidatos a pais e a filhos não conseguirão se encontrar e as crianças continuarão a crescer nos abrigos.” 

Segundo Janaina, as famílias temem que a partir de determinada idade, a criança carregue vícios de educação que não poderão ser mudados. Para ela, as dificuldades de criar filhos adotivos e biológicos são similares. Ambos precisam de atenção, de limite, de paciência e de amor. “Tratam-se apenas de crianças que chegaram em uma família de forma diferente.” 

Mais importante que a idade, o sexo ou a etnia do adotado é que os pretendentes estejam cientes das responsabilidades que a maternidade e a paternidade requerem e que um novo membro muda a dinâmica da família. 

De acordo com Marta, a fase de adaptação, que corresponde ao período de guarda provisória, é importante não só para a família, mas principalmente para a criança. Caso o processo de adoção não venha a dar certo, o risco de ela se sentir rejeitada é muito grande. Em relação aos pais, Marta considera que um dos maiores temores é a possibilidade da mãe biológica requerer a guarda da criança. Ela afirma que se o processo de adoção não for realizado sob as regras da lei, a mãe biológica poderá recuperar a guarda do filho. Por esse e outros motivos, o número de pessoas que recorrem a instituições especializadas, sobretudo a grupos de apoio, em busca de informações tem-se tornado mais freqüente. A atitude esclarece sobre os trâmites legais e conscientiza famílias sobre a importância de adotar crianças com mais idade, de raças distintas e até grupos de irmãos.